Carmen Miranda o símbolo do Brasil - artigo do portal "Ùltimo Segundo" no Centenário

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Há exatos cem anos, nascia em Portugal Maria do Carmo Miranda da Cunha. Segunda filha de um barbeiro e de uma dona de casa, emigrou com os pais para o Brasil com pouco mais de um ano de idade. Aqui, ganhou o apelido de Carmen – seu pai era fã de ópera do mesmo nome, de Georges Bizet. E, mesmo nascida em Portugal, tornou-se um ícone brasileiro, com o nome de Carmen Miranda.

Entre 1930 e 1939, foi a maior cantora do Brasil e estabeleceu um recorde que nunca mais foi batido – gravou quase 300 músicas. Ao longo destes dez anos, lançou clássicos como “Pra Você Gostar de Mim” (seu primeiro sucesso), “Alô... Alô?”, “O Tique-Taque do Meu Coração”, “Na Batucada da Vida”, “No Tabuleiro da Baiana”, “Camisa Listrada”, “Eu Dei”, “E o Mundo Não se Acabou” e “O Que É Que a Baiana Tem”, para citar os principais. A marchinha de Carnaval, um dos gêneros mais importantes da música brasileira, praticamente surgiu em sua voz.

Seu sucesso foi tão grande que, em 1939, ela partiu para os Estados Unidos. Lá, protagonizou espetáculos nas maiores casas de Nova York e carimbou seu passaporte para participar de musicais de sucesso em Hollywood, como "Entre a Loura e a Morena", "Uma Noite no Rio" e "Serenata Tropical". O estrelato fez com que a imagem da mulher com um cacho de bananas na cabeça se tornasse sinônimo de Brasil em todo o planeta. E assim começou a relação de amor e ódio entre ela e o país que representou.

Bem ou mal, Carmen lançou no exterior a imagem do Brasil. De acordo com Marcos Horácio Gomes Dias, professor de história contemporânea da Unifai e Uni Sant’Anna, até então o País era para os estrangeiros uma nação produtora de café, mas distante do imaginário popular. “Carmen faz tudo isso ficar mais próximo, nas telas e em technicolor. Um lugar recheado de palmeiras, praias e mulheres bonitas”, afirma.

Mesmo assim, como se pode notar, o retrato passado pelas telas de cinema era estereotipado, criando uma representação de Brasil que até hoje é assimilada pelos estrangeiros e inclusive por uma pequena parcela da população brasileira. Isso porque os roteiros dos filmes eram escritos por norte-americanos, que naquela época não se preocupavam em produzir histórias fiéis à realidade, mas sim entretenimento. “Quando o cinema norte-americano se debruça sobre outras culturas, quer fazer isso de forma diferente, o que não raro desemboca na caricatura”, analisa Horácio.


Ícone da América Latina
Mais do que isso, a figura de Carmen foi incentivada pela Política da Boa Vizinhança praticada pelo governo do presidente Franklin D. Roosevelt. Em tempos de Segunda Guerra Mundial, o temor era de que as nações latino-americanas, muitas com inclinação totalitarista e ricas em colônias alemãs, se tornassem simpatizantes do Eixo. Como resultado, em um esforço para estreitar relações entre as Américas, Carmen foi uma espécie de símbolo dos latinos em Hollywood, tanto que apareceu em filmes situados na Argentina e Cuba, além de inpirar o célebre segmento da animação “Você Já Foi à Bahia?”, de Walt Disney (no qual foi interpretada pela irmã, Aurora).

Uma das mulheres mais bem-pagas nos Estados Unidos ao longo da década de 1940, a moda de Carmen estampava vitrines de Los Angeles a Paris. Manequins ostentavam sapatos plataforma (criadas pela própria artista, que tinha 1,54m de altura) e turbantes com bananas, muitas bananas. “O Brasil recebeu uma imagem de paraíso perdido. Em relatos do pós-guerra, o país é visto como um lugar mítico, um paraíso tropical onde o sol brilha o tempo todo”, conta o professor.

Se em um primeiro momento a celebridade que se tornou Carmen serviu aos interesses do governo Getúlio Vargas, mostrando aos brasileiros que o País estava “destinado a ser grande”, para muitos não demorou para o sentimento arrefecer e dar lugar ao desconforto de ser visto como morador da república das bananas e papagaios. Na primeira vez que voltou ao Brasil depois de uma temporada nos EUA, em 1940, Carmen chegou a ser vaiada durante um show que fez no cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Na mesma época, gravou a música "Disseram que Voltei Americanizada", em que parodia a sua situação: "Mas pra cima de mim, pra que tanto veneno? / Eu posso lá ficar americanizada? / Eu que nasci com samba e vivo no sereno / Topando a noite inteira a velha batucada".

Apesar da resposta bem-humorada, a verdade é que Carmen passou quase quinze anos sem colocar os pés no Brasil. A explicação para esse afastamento, além da quantidade de compromissos por causa do sucesso na América do Norte, está nos problemas pessoais da artista. Ela era viciada em barbitúricos, o que acabou provocando sua morte, em 1955.


Porta-voz da cultura brasileira
Discussões à parte, Marcos Horácio defende que, intencionalmente ou não, Carmen foi a principal responsável por projetar a cultura e música brasileiras no exterior. “A casa de Carmen em Beverly Hills era uma embaixada informal do Brasil”, garante. Primeira intérprete de compositores como Assis Valente e Dorival Caymmi, a cantora mostrou para o mundo “Aquarela do Brasil”, transformando Ary Barroso em estrela e imortalizando a música com um standard. Tanto é verdade que, segundo o relato de muitos, “Aquarela” foi a trilha sonora de comemoração do fim da Segunda Guerra.

Carmen sofreu um ataque cardíaco em sua casa em Beverly Hills, horas depois de participar do programa de TV do comediante Jimmy Durante. Ela tinha apenas 46 anos. Seu corpo foi transportado para o Rio de Janeiro e enterrado no cemitério São João Batista. Estima-se que seu cortejo fúnebre foi acompanhado por aproximadamente 500 mil pessoas.

Cem anos depois de seu nascimento, Carmen Miranda ainda é um ícone. Seu aniversário, no entanto, não chega nem perto de provocar as mesmas festividades que, por exemplo, os 50 anos da Bossa Nova. O principal evento é a exposição "Carmen Miranda - Notável para Sempre", no Museu Carmen Miranda, no Rio de Janeiro. A mostra tem abertura oficial nesta segunda-feira, com a presença do governador do estado, Sérgio Cabral Filho.

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100 Anos Carmen Miranda